23 abril 2009

Novelas

O nosso mês na Bahia ainda nos guardava outras praias, por isso tratámos de seguir para Itacaré. Fica depois de Ilhéus, cidade onde Jorge Amado viveu e se inspirou para a Gabriela e onde ainda existem algumas das casas das filmagens, como o bar do Seu Nacib e o Bataclan.

Jorge Amado nasceu precisamente numa cidade que fica a caminho de Ilhéus, chamada Itabuna. E tal como pariu a genialidade deste escritor, esta cidade é agora fértil nas circunstâncias que a tornam o maior foco de dengue na Bahia. Quem por lá passa percebe porquê. O lixo é muito, acumulado pelas estradas, junto às casas, nas poças que a chuva teima em não deixar vazar. Por ali vivem pessoas, as mesmas que contribuem para esse lixo, habituadas a conviver, descalças, com tudo isso, a quem não ensinaram a viver de outra maneira, que nunca viram nada melhor, que não sabem exigir às entidades melhores condições sanitárias. Nem de habitação. Nem de urbanismo. Nem de educação. Mais difícil do que tirar as pessoas da pobreza é tirar a pobreza das pessoas. Isso vê-se muito, no dia a dia. Mas não é só no Brasil.

Do muito que nos falaram de Itacaré, não deu para comprovar grande coisa. Entre outras razões, a que me toca mais foi o facto de os patrocinadores, mais uma vez, não me terem dado tréguas. A segunda foi o tempo. O Norte e o Nordeste têm estado a ser afectados por grandes "pancadas" de chuva, em alguns lugares as mais fortes dos últimos 100 anos. E a ausência secular fez-se agora substituir por chuvas e nuvens diárias. A sorte é que a temperatura é amena. Por isso, lamento dizer que Itacaré deve ser muito bonito... com bom tempo.

As praias, pela natureza das ondas, são fundamentalmente frequentadas por surfistas. Pessoal muito jovem, que é também quem dá vida aos restaurantes e bares da cidade. O feriado de Tiradentes ajudou a preencher mais os cenários, para contrariar a baixa temporada.

Itacarezinho, praia recta com vários quilómetros, é o refúgio de alguns resorts mais exclusivos. Talvez por esse motivo, só para poder chegar à praia de carro, deixam-se 10 reais nas mãos do guarda junto à estrada; para visitar as cachoeiras, são mais 20. Quanto a mim, não será o melhor modo de fazer negócio porque quem explora as concessões dos locais já tem alguém a montante a filtrar os acessos. A não ser que sejam os mesmos a cobrar nos dois lugares...

Mas não há dúvida que a Natureza também aqui não foi madrasta ao deixar um generoso pedaço de Mata Atlântica. Há casas que passam despercebidas, no meio de tanta vegetação. Foi chão que já viveu o auge do cacau, na década de 1920, precisamente quando Maria Machadão recebia os coronéis no seu cabaré.