01 maio 2009

Bye-bye, Bahia


Custou deixar a Bahia. Cumprimos o mês que lhe tínhamos destinado, mas a sensação é de que foi curto. À medida que nos aproximamos da fronteira, parece que inventamos caminhos novos para demorar a saída. Inclusivamente, parece que procuramos algo que nos desiluda para não sair com tanta pena. Não foi bem o caso, mas a zona de Conde não foi suficientemente convincente para nos deter por lá. Bem sei que a época é baixa mas, assim mesmo, creio chegar à conclusão de que o que é bom já está relativamente bem explorado, no litoral brasileiro. Em lugares menos apelativos, a infra-estrutura que falta na época baixa não parece ser muito melhor na época alta. Só deve ser mais cara, deve ter mais gente e nem por isso deve oferecer mais.

A natureza é ilimitadamente profícua, o criador deixou em todo o lado um inegável legado. Mas nem sempre isso basta, especialmente naqueles casos em que a mão da criatura já lá chegou, sem preocupações que não sejam as trivialidades de um merecido tecto ou, em gerações mais novas ou com um pouco mais de renda, de uma bagageira preenchida com colunas (que é como quem diz, umas colunas com um carro à volta) para ouvir e obrigar a ouvir os axés, bregas e funks mais insuportáveis que alguém se lembrou de gravar. Não esquecendo, obviamente, os casos em que a criatura tem nome de cadeia hoteleira e cria os paraísos artificiais a que chama resorts, vedando praias e privatizando o mar.

E assim abandonámos o território baiano. Trazemos já muitas saudades, duas mãos cheias de gente boa, e a certeza de que a Bahia não é apenas um Estado, mas um estado de graça.


27 abril 2009

Salvador

De Morro de São Paulo, cortámos caminho por ferry-boat, para poupar 150 km por estrada até Salvador. A paisagem que nos acompanha e entra por Itaparica adentro é muito bonita, rodeando uma estrada quase sem movimento. Desta ilha que olha de frente para a capital, do outro lado da Baía de Todos os Santos, ficámos com uma ideia de que tem um enorme potencial, especialmente do lado oposto, em que a ponte do Funil a liga ao continente, sobre o Canal de Itaparica. Faz lembrar uma barragem, com todas as possibilidades que oferece para desportos náuticos. A proximidade a Salvador é uma mais-valia que, pelos vistos, ainda não soube ser explorada.

Na cidade, domingo à tarde, as praias e esplanadas da Barra estavam compostas. Conseguimos acertar numa pousada gerida por um português, mas onde ficámos apenas uma noite por motivos estratégicos, para terminar um trabalho que um patrocinador aguardava na manhã seguinte.

Como não podia deixar de ser, fizemos uma breve visita ao Pelourinho, mas o ambiente não era dos mais agradáveis. A principal razão que lá nos tinha levado - ir até ao atelier do Menelau - acabou por sair gorada, visto que, ao domingo, a loja fecha mais cedo. Ficámos com pena de não o ver nem de poder conhecer as novas obras do Picasso brasileiro. Acabámos a noite num Shopping - enfim, para um banho de normalidade, que esta coisa de ser muito alternativo também cansa!

26 abril 2009

Morro de São Paulo

A chuva literalmente espantou-nos de Itacaré. Até ao último dia, o cinza do céu não aliviou e ainda nos proporcionou um pequeno raid mais radical, depois de passarmos o Rio das Contas, de balsa. Na outra margem, os 12 km de estrada de chão até à nova rodovia, aliados à chuva dos últimos dias, prepararam um piso digno de todo-o-terreno. Foi essa a única razão pela qual, lamentavelmente, não conseguimos ir conhecer Barra Grande, uma visita que estava prometida ao pessoal que já cá esteve e que também não conseguiu lá ir. Vai ter que ficar para a próxima.


A tal rodovia nova, pronta há algum tempo, aguarda verba renovada para que seja concluída uma pequena ponte que a ligue a Itacaré, assim evitando, a quem viaja para Norte, o desvio de mais de 100 km por Ilhéus ou as contingências do piso em que nós nos aventurámos. Assim sendo, apanhámos o troço inicial da estrada nova que praticamente ninguém usa, por não ser mais do que um beco sem saída. Deve ter ido pelo Rio das Contas abaixo a verba original que estava destinada à ponte...


O novo destino foi Morro de São Paulo. O tempo parece querer mudar e, obviamente, isso contribui muito para a primeira impressão que se traz das coisas. De qualquer das formas, a ilha tem boa onda, praias lindas, gente acolhedora. Uma grande e simpática comunidade de italianos já vai aqui deixando descendência e fundando pousadas e restaurantes. Também há alguns portugueses. Quanto a isso, os nativos são claros: "desde que traga renda e emprego, não interessa de onde vem". Por aqui, assim como ao longo dos quase 4 mil km de costa que já fizemos, na praia não se vê grande miséria. O turismo desenvolve o comércio, os serviços. Muitas pessoas também vivem de expedientes, como carregadores de malas, estacionadores, guias nativos, vendedores de tudo. Trabalhos obviamente precários, sustento sabe-se lá de quantos. Desconheço os números do desemprego no Brasil, mas à luz das tendências mundiais, é estranho ver, por vezes, um restaurante com mais empregados do que clientes.


O ponto alto em Morro foi a visita às piscinas naturais na Quarta Praia, onde centenas de peixes listrados nos rodeiam e não nos estranham, habituados como estão a que lhes dêem de comer. Quando perguntei acerca da identidade da espécie, o moço que aluga máscaras para mergulho e vende ração para atrair os bichos explicou-me com um grande sorriso de sabedoria: "Deus não disse o nome desse peixe, não. Aí, o homem botou "sargento"."